Seniores recriam quotidiano das mulheres conserveiras

Cerca de uma dezena de participantes do grupo de teatro do projeto Sénior Tradições, promovido pela Junta de Freguesia de S. Sebastião, encenaram, no dia 14 de abril, na Casa da Cultura, a dramatização “Mulher Conserveira”, sobre o dia a dia das operárias da indústria conserveira na cidade de Setúbal.

Baseada na experiência das participantes do grupo de teatro do projeto Sénior Tradições que trabalharam em fábricas de conservas há mais de 45 anos, a pequena dramatização recriou os diálogos e momentos do quotidiano laboral, demonstrando o sofrimento das operárias que se sujeitavam a trabalhar em condições árduas.

Através deste teatro de improviso, que pretende homenagear a mulher conserveira, é possível conhecer vários aspetos como, por exemplo, o facto de as trabalhadoras não terem horários definidos, nem direito a pausas; serem obrigadas a levar os filhos, às vezes ainda bebés, para a fábrica, por não haver infantários na época; muitas iam trabalhar grávidas porque precisavam de sustentar a família e não tinham direito a abono.

A fome foi outro aspeto evidenciado pelos atores amadores do grupo de teatro de S. Sebastião. As famílias eram obrigadas a empenhar objetos valiosos, tais como joias, fatos e vestidos de casamento para poderem comprar comida. “Já não tenho nada para empenhar…vou ter que pedir fiado, ou então não como, nem tenho o que dar de comer aos meus filhos!”, lamentava-se uma das operárias que estava a trabalhar horas a fio em pé e em jejum. Muitas vezes as mulheres colocavam nas algibeiras peixe da fábrica, à socapa, para poderem alimentar os filhos, uma situação que também foi representada em “Mulher Conserveira”.

Após o 25 de abril de 1974, muita coisa mudou. “Agora já posso falar e fazer valer os meus direitos”, manifestava uma trabalhadora. O salário mínimo nacional e o consequente aumento do poder de compra, os subsídios de Natal e de férias, o abono de família, os sindicatos, o Serviço Nacional de Saúde, foram algumas das conquistas de abril.

A encenação foi comentada por Anita Vilar, médica psiquiatra, que se comoveu com o que considerou ser “uma excelente representação daquilo que se passava nas fábricas conserveiras naquela altura”.

“As mulheres conserveiras não tinham praticamente direitos nenhuns”, afirmou a ex-deputada municipal, lembrando que muitas vezes eram agredidas e assediadas sexualmente pelos patrões que chegavam a tirar-lhes os relógios “para elas não poderem controlar o tempo de trabalho”.

Sublinhando que “as mulheres conserveiras foram criadoras da riqueza de Setúbal”, a psiquiatra recordou as várias lutas travadas pelas mesmas, cujo somatório ajudou, segundo a oradora, à realização da revolução de abril. O pagamento do período de defeso; o aumento dos salários; o fim do trabalho noturno e do regime de empreitadas, foram algumas das exigências das operárias que recorriam à greve para conseguir melhores condições de trabalho.

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