Visita a antigas prisões recorda resistência em prol da liberdade

No passado dia 9 de outubro, um grupo de cerca de 30 pessoas partiram de Setúbal para visitar a antiga Cadeia do Aljube - atual Museu do Aljube, e a antiga Cadeia do Limoeiro, no âmbito do programa cultural que assinala o 150.º aniversário da Estátua de Bocage, organizado pelo Museu de Arqueologia e Etnografia do Distrito de Setúbal (MAEDS/ AMRS), pela Junta de Freguesia de S. Sebastião - Freguesia du Bocage, e pela Escola Básica Hermenegildo Capelo.

Incluídas no programa “Bocage o poeta da Liberdade. A construção da memória nos 150 anos do Monumento a Bocage”, as visitas ao Museu do Aljube e à antiga Cadeia do Limoeiro proporcionaram uma viagem pela memória do combate à ditadura e da resistência em prol da liberdade e da democracia, em diferentes períodos da nossa história.

A Cadeia do Limoeiro, onde esteve preso o poeta sadino, representa a repressão no final do século XVIII, durante o reinado de D.ª Maria I, enquanto o Aljube representa algo muito mais recente – a ditadura salazarista e o encarceramento de presos políticos, explicou o professor António Chitas, membro da comissão organizadora do programa que desvenda a faceta mais revolucionária de Bocage. Durante a visita, o investigador salientou o paralelismo entre os dois estabelecimentos prisionais das “ditaduras de pensamento”, indicando que em ambos foram encarceradas pessoas apenas por terem ideias diferentes das proclamadas pelos seus governantes.

Evidenciando a existência de “uma lacuna nos planos curriculares, que omitem o combate à ditadura, o sofrimento, a resistência, as mensagens subversivas, e os grupos organizados que lutavam na clandestinidade”, o presidente da Junta de Freguesia de S. Sebastião, que participou na visita, considerou que “estes espaços museológicos são essenciais para formar cidadãos conscientes, proporcionando o conhecimento de registos históricos que restituem a memória coletiva sobre a luta contra os regimes ditatoriais e a brutalidade desses sistemas opressivos”.

Como membro da comissão organizadora do programa que assinala os 150 anos do monumento a Bocage, Nuno Costa mostrou-se muito satisfeito por participar no projeto, que conta com a parceria da Junta de Freguesia de S. Sebastião, responsável pela cedência de transporte e do Auditório Bocage. “É para nós uma honra colocar os meios da Junta de Freguesia ao serviço da cultura, no âmbito de um programa tão eclético como este, com muitas parcerias e uma forte ligação às escolas”, afirmou o autarca.

Bocage foi um dos prisioneiros da Cadeia do Limoeiro, acusado de “delito de opinião”, onde passou três meses, em condições muito severas, descritas na sua obra “Trabalhos da vida humana”, adiantou António Chitas, revelando que o poeta foi posteriormente enviado para um programa de reeducação religiosa, no antigo Mosteiro de São Bento da Saúde, atual Palácio de S. Bento. No entanto, o poeta manteve-se fiel aos princípios que defendeu a longo da sua vida e, embora de forma mais discreta e prudente, continuou a escrever textos subversivos, sendo que “grande parte da sua obra poética erótica e satírica foi produzida após esse período de encarceramento”, explicou o especialista.

De acordo com Joaquina Soares, diretora do MAEDS/ AMRS, “a visita à prisão onde Bocage esteve encarcerado pretende destacar a sua dimensão cívica e a sua ação como defensor dos ideários de liberdade, igualdade e fraternidade da revolução francesa, durante um período muito estagnado e retrogrado da história de Portugal”.

Exposições, conferências, espetáculos musicais, cinema e sessões de poesia são algumas das atividades previstas no âmbito desta iniciativa cultural que teve início a 10 de setembro e se irá prolongar até fevereiro de 2022. O programa completo pode ser consultado AQUI.

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