No âmbito do programa de comemorações do Dia Internacional da Mulher, organizado pela Junta de Freguesia de São Sebastião (JFSS) e pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), o Auditório Germano dos Santos Madeira recebeu, no dia 8 de março, uma encenação, uma exposição, esculturas e um colóquio.
No exterior do Auditório, uma pequena demonstração por parte de nove mulheres pertencentes ao Projeto Sénior Tradições, da JFSS, simulou o trabalho que era executado pelas mulheres na indústria conserveira de Setúbal.
A reconstituição incluiu o “moço da bicicleta” que ia de porta a porta avisar as operárias de que o peixe tinha chegado; o descarregador, que envergava um chapéu metálico circular, com aba profunda, sobre o qual transportava o pescado; e, claro, as operárias que saiam das suas casas para se entregarem às diversas tarefas: escorchar, salmonar, lavar, engrelhar, cortar, encaixotar, empapelar, etc.
Os salários miseráveis e o desprezo dos patrões pelos direitos dos trabalhadores também foram salientados através do testemunho de uma ex-operária da indústria conserveira. O facto das jornadas de trabalho serem longas, chegando às 17 horas diárias, foi igualmente evidenciado pelas seniores, demonstrando que muitas vezes eram obrigadas a levar os filhos menores para as fábricas, porque não existiam infantários naquela época.
Já no interior do Auditório, o artista setubalense Pedro Marques apresentou duas esculturas de ferro, alusivas à mulher: “Rosa”, obra exibida pela primeira vez ao público e que irá ser exposta brevemente numa feira em Espanha; e “Borboleta de Sangue”, que simboliza a mulher “que se quer libertar da violência doméstica”.
A exposição "40 Anos de Abril, itinerários e conquistas dos direitos das mulheres", do MDM, instalou-se também naquele espaço da JFSS, ilustrando o caminho traçado e os direitos alcançados com a revolução. “Com o 25 de abril a mulher conquistou o estatuto de ser humano”, expressou Mónica Leitão, Secretária do executivo da Junta de Freguesia.
A interdição a determinadas profissões; as limitações no acesso à vida associativa e ao desporto; o controlo e as imposições a que se sujeitavam por parte dos pais e/ou maridos no que respeita à sua própria saúde, ao seu trabalho, etc.; foram algumas das discriminações, apontadas pela eleita, que vigoravam antes de abril de 1974. No entanto, mais de 40 anos depois, continua a haver “ofensivas”, “discriminação”, “repressão” e “desigualdades” em relação às mulheres, indica Mónica Leitão, apelando a que se continue a lutar, diariamente, pelos direitos femininos.